Ação Libertadora Nacional (ALN)
As divisões internas que sacudiram o Partido Comunista Brasileiro (PCB), após o golpe civil-militar de 1964, deram origem à formação de diversas organizações armadas. Entre as mais importantes está a Ação Libertadora Nacional (ALN), criada em 1967. Carlos Marighella – quadro dirigente rompido com o PCB – foi, ao lado de Joaquim Câmara Ferreira, um de seus principais nomes. A divergência central entre o bloco ortodoxo liderado por Luís Carlos Prestes, principal liderança do “Partidão”, e as dissidências comunistas formadas por ocasião do VI Congresso do partido concentra-se na defesa que estas fazem da luta armada após a repressão que se seguiu ao golpe.
No final de 1967, Marighella se desliga da Comissão Executiva do PCB e viaja, sem autorização do partido, para Havana (Cuba), onde participa da assembleia da Organização Latino-americana de Solidariedade (OLAS), movida pela estratégia de articular um plano de ação revolucionária no continente. O ato de indisciplina valeu a ele e a seus camaradas de tendência a expulsão do partido.
Marighella não planeja construir uma nova organização partidária. O revolucionário baiano acredita ser a estrutura centralizada dos tradicionais partidos comunistas um obstáculo às ações armadas. Assim, a ALN é pensada como uma federação de grupos armados e elevado grau de autonomia. Contando com maior poder implantação em São Paulo, a ALN possui estrutura orgânica precisa. Seu lema: “A ação faz a vanguarda”.
Embora ainda reivindique a tese das duas etapas da revolução (libertação nacional seguida da instauração do socialismo), ao contrário do PCB a ALN nega que uma parcela da burguesia possa se aliar aos operários e camponeses no processo revolucionário brasileiro. Sua tática consiste em realizar ações armadas nos grandes centros urbanos. O objetivo é recolher fundos para o lançamento da guerrilha rural. Desta, segundo Marighella, nascerá o Exército de Libertação Nacional que derrotará a ditadura para aplicar um programa cujo centro será o combate ao imperialismo.
A ALN protagoniza, em agosto de 1968, uma das ações mais famosas da época: a “expropriação” do trem pagador da estrada de ferro Santos-Jundiaí. Em 1969, outra operação ousada – desta vez em aliança com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) –se materializa no sequestro, no Rio de Janeiro, do então embaixador estadunidense no Brasil Charles Burke Elbrick.
Em troca dele, as organizações exigem a leitura de um manifesto revolucionário em rede nacional e a libertação de 15 presos políticos. Em 7 de setembro, Elbrick é libertado após a soltura dos presos, logo encaminhados ao México.
Tanto o regime militar quanto a imprensa se aproveitam de tais ações para qualificá-las de “terroristas”. O próprio Marighella, em seu “Mini manual do guerrilheiro urbano”, reivindica a utilização de métodos terroristas desde que não atinjam pessoas inocentes.
A escalada repressiva da ditadura – potencializada pela edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, e pelo surgimento da Operação Bandeirantes (Oban), em junho de 1969 – acaba, finalmente, por derrota-lo. Marighella é morto a tiros em São Paulo, em 4 de novembro daquele ano, durante uma emboscada comandada pelo delegado e notório torturador Sérgio Paranhos Fleury.
Câmara Ferreira, codinome Toledo, assume o comando da reorganização da ALN, mas em outubro de 1970 é sequestrado, torturado e assassinado em um sítio clandestino em São Paulo, durante operação comandada pelo mesmo Fleury. A organização é atingida em outros estados e tem centenas de seus militantes presos. Ainda assim, prossegue com ações urbanas que resultam em baixas expressivas. Envolve-se, então, em “justiçamentos” – polêmicos entre as próprias esquerdas – de “militantes traidores”. Fragilizada, a ALN sofre dissidências que vão dar origem a organizações como o Movimento de Libertação Popular (Molipo) e a Tendência Leninista (TL) – de contingente e poder de fogo reduzido.