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Organização

Ação Libertadora Nacional (ALN)

9 de agosto de 2023

As divisões internas que sacudiram o Partido Comunista Brasileiro (PCB), após o golpe civil-militar de 1964, deram origem à formação de diversas organizações armadas. Entre as mais importantes está a Ação Libertadora Nacional (ALN), criada em 1967. Carlos Marighella – quadro dirigente rompido com o PCB – foi, ao lado de Joaquim Câmara Ferreira, um de seus principais nomes. A divergência central entre o bloco ortodoxo liderado por Luís Carlos Prestes, principal liderança do “Partidão”, e as dissidências comunistas formadas por ocasião do VI Congresso do partido concentra-se na defesa que estas fazem da luta armada após a repressão que se seguiu ao golpe.

No final de 1967, Marighella se desliga da Comissão Executiva do PCB e viaja, sem autorização do partido, para Havana (Cuba), onde participa da assembleia da Organização Latino-americana de Solidariedade (OLAS), movida pela estratégia de articular um plano de ação revolucionária no continente. O ato de indisciplina valeu a ele e a seus camaradas de tendência a expulsão do partido.

Marighella não planeja construir uma nova organização partidária. O revolucionário baiano acredita ser a estrutura centralizada dos tradicionais partidos comunistas um obstáculo às ações armadas. Assim, a ALN é pensada como uma federação de grupos armados e elevado grau de autonomia. Contando com maior poder implantação em São Paulo, a ALN possui estrutura orgânica precisa. Seu lema: “A ação faz a vanguarda”.

Embora ainda reivindique a tese das duas etapas da revolução (libertação nacional seguida da instauração do socialismo), ao contrário do PCB a ALN nega que uma parcela da burguesia possa se aliar aos operários e camponeses no processo revolucionário brasileiro. Sua tática consiste em realizar ações armadas nos grandes centros urbanos. O objetivo é recolher fundos para o lançamento da guerrilha rural. Desta, segundo Marighella, nascerá o Exército de Libertação Nacional que derrotará a ditadura para aplicar um programa cujo centro será o combate ao imperialismo.

A ALN protagoniza, em agosto de 1968, uma das ações mais famosas da época: a “expropriação” do trem pagador da estrada de ferro Santos-Jundiaí. Em 1969, outra operação ousada – desta vez em aliança com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) –se materializa no sequestro, no Rio de Janeiro, do então embaixador estadunidense no Brasil Charles Burke Elbrick.

Em troca dele, as organizações exigem a leitura de um manifesto revolucionário em rede nacional e a libertação de 15 presos políticos. Em 7 de setembro, Elbrick é libertado após a soltura dos presos, logo encaminhados ao México.

Tanto o regime militar quanto a imprensa se aproveitam de tais ações para qualificá-las de “terroristas”. O próprio Marighella, em seu “Mini manual do guerrilheiro urbano”, reivindica a utilização de métodos terroristas desde que não atinjam pessoas inocentes.

A escalada repressiva da ditadura – potencializada pela edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, e pelo surgimento da Operação Bandeirantes (Oban), em junho de 1969 – acaba, finalmente, por derrota-lo. Marighella é morto a tiros em São Paulo, em 4 de novembro daquele ano, durante uma emboscada comandada pelo delegado e notório torturador Sérgio Paranhos Fleury.

Câmara Ferreira, codinome Toledo, assume o comando da reorganização da ALN, mas em outubro de 1970 é sequestrado, torturado e assassinado em um sítio clandestino em São Paulo, durante operação comandada pelo mesmo Fleury. A organização é atingida em outros estados e tem centenas de seus militantes presos. Ainda assim, prossegue com ações urbanas que resultam em baixas expressivas. Envolve-se, então, em “justiçamentos” – polêmicos entre as próprias esquerdas – de “militantes traidores”. Fragilizada, a ALN sofre dissidências que vão dar origem a organizações como o Movimento de Libertação Popular (Molipo) e a Tendência Leninista (TL) – de contingente e poder de fogo reduzido.

 

Maria Rita, mãe de Marighella [Arquivo da família]
Maria Rita, mãe de Marighella [Arquivo da família]
Augusto, pai de Marighella [Arquivo da família]
Augusto, pai de Marighella [Arquivo da família]
Carlos Marighella jovem [Arquivo da família]
Carlos Marighella jovem [Arquivo da família]
Marighella, prontuário 17.10.1939 [Fundo DEOPS - Arq. Público do Estado de SP]
Marighella, prontuário 17.10.1939 [Fundo DEOPS - Arq. Público do Estado de SP]
Marighella portrait, 1945 [Arquivo da família]
Marighella portrait, 1945 [Arquivo da família]
Marighella, deputado constituinte da bancada do PCB, 1946 [Acervo Iconographia]-
Marighella, deputado constituinte da bancada do PCB, 1946 [Acervo Iconographia]-
Marighella na bancada comunista da Assembléia Constituinte, 1946, com Prestes e Gregório Bezerra [Acervo Iconographia]-
Marighella na bancada comunista da Assembléia Constituinte, 1946, com Prestes e Gregório Bezerra [Acervo Iconographia]-
O deputado Marighella, ao centro, conversa com trabalhadores, c. 1946 [Acervo Iconographia]
O deputado Marighella, ao centro, conversa com trabalhadores, c. 1946 [Acervo Iconographia]
Marighella, Congresso de Solidariedade a Cuba, RJ, março de 1963 [Acervo Iconographia]
Marighella, Congresso de Solidariedade a Cuba, RJ, março de 1963 [Acervo Iconographia]
Marighella baleado e preso no Rio de Janeiro, maio de 1964 [Fundo Correio da Manhã - Arquivo Nacional]-
Marighella baleado e preso no Rio de Janeiro, maio de 1964 [Fundo Correio da Manhã - Arquivo Nacional]-
Cartaz da Organização Latinoamericana de Solidariedade, 1967 [Acervo Iconographia]
Cartaz da Organização Latinoamericana de Solidariedade, 1967 [Acervo Iconographia]
Marighella, última foto conhecida, passaporte com que viajou para Cuba, 1967 [Arquivo da família]
Marighella, última foto conhecida, passaporte com que viajou para Cuba, 1967 [Arquivo da família]
O guerrilheiro nº 1 abril de 1968, publicado pela Ação Libertadora Nacional (ALN) [Fundo CEMAP - CEDEM UNESP]
O guerrilheiro nº 1 abril de 1968, publicado pela Ação Libertadora Nacional (ALN) [Fundo CEMAP - CEDEM UNESP]
Adesivo da Ação Libertadora Nacional (ALN) [reprodução]
Adesivo da Ação Libertadora Nacional (ALN) [reprodução]
 Adesivo da Ação Libertadora Nacional (ALN) [reprodução]
Adesivo da Ação Libertadora Nacional (ALN) [reprodução]
Assalto da ALN ao Banco Leme Ferreira na av. Angélica, 1.6.1968
Assalto da ALN ao Banco Leme Ferreira na av. Angélica, 1.6.1968
Marighella VEJA 20.11.1968 [reprodução]
Marighella VEJA 20.11.1968 [reprodução]
Marighella, inimigo público nº 1, UH, RJ, 21.11.1968 [Arquivo Público do Estado de São Paulo]
Marighella, inimigo público nº 1, UH, RJ, 21.11.1968 [Arquivo Público do Estado de São Paulo]
Carlos Marighella assassinado na Al. Casa Branca, SP, por uma equipe do DEOPS chefiada pelo delegado Sérgio Fleury, 4.11.1969 [Acervo Iconographia]
Carlos Marighella assassinado na Al. Casa Branca, SP, por uma equipe do DEOPS chefiada pelo delegado Sérgio Fleury, 4.11.1969 [Acervo Iconographia]
Manual do guerrilheiro urbano [Assírio & Alvim, Portugal, 1974]
Manual do guerrilheiro urbano [Assírio & Alvim, Portugal, 1974]

 

 



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