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Organização

Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)

9 de agosto de 2023

Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)

A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) surgiu no início de 1968 como resultado da fusão entre dissidentes da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (ORM-POLOP) em São Paulo com militantes da seção paulista do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR).

Em julho de 1969, a VPR se uniu ao Comando de Libertação Nacional (COLINA) formando a Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-PALMARES). Mas a fusão durou pouco. Em setembro do mesmo ano, devido a divergências internas especialmente relacionadas à combinação de luta armada com lutas sociais e estratégias revolucionárias, a VPR foi reconstituída.

A VPR se definia como uma vanguarda armada. Compreendia a luta armada como um instrumento de combate ao regime militar, mas também como forma de angariar as massas. Seu objetivo era atacar o regime através de ações combativas, que podiam ser expropriações ou  sequestros de autoridades. Ao expor as fraquezas do regime, o apoio da população começaria a vir de forma orgânica. Os grupos de vanguarda deveriam ser, pela natureza de suas ações, grupos pequenos, mas voltados ao interesse do povo.

Foi uma das organizações armadas mais ativas e ficou conhecida por realizar “ações espetaculares”. Em 1969 expropriou as armas do quartel do 4º Regimento de Infantaria de São Paulo quando Carlos Lamarca, um dos principais nomes da VPR, abandonou o exército com metralhadoras e munições para a luta armada. Em 1970, como forma de exigir a libertação de presos políticos, sequestrou o cônsul japonês em São Paulo e os embaixadores alemão (em conjunto com a Ação Libertadora Nacional – ALN) e suíço, que foram trocados por 115 militantes.

Para a organização, os impasses que impediriam o desenvolvimento dos movimentos revolucionários poderiam ser resumidos no impasse militar da luta de massas, no qual a luta de massas, sem força militar, obtém repercussão política, mas não têm força para sustentar o movimento; e no impasse político da luta armada, no qual o movimento não possui repercussão política suficiente para desafiar o regime. A solução seria unir as forças políticas e militares, que ocorreria quando a luta armada se tornasse um desafio político e militar ao regime, fazendo com o que o poder instituído reforçasse a ditadura, afastando-se das massas. As massas, por sua vez, voltariam-se para a política de vanguarda revolucionária.

Para isso, o movimento deveria atingir simultaneamente três objetivos: alcançar repercussão política nacional, projetando-se como poder alternativo capaz de defender os interesses da maioria; tornar-se um desafio direto armado ao poder constituído, com consequências econômicas e militares para demonstrar a vulnerabilidade do regime; e atingir repercussão local em áreas que permitissem a guerrilha rural.

A estratégia da VPR se baseava em focos de guerrilha,  na qual pequenos grupos de guerrilheiros permanentes realizam ações de sabotagem econômica e militar. A função principal desses grupos seria dispersar o inimigo, uma vez que um pequeno número de guerrilheiros acabaria por mobilizar um grande efetivo de força repressiva. A segunda função do grupo seria demonstrar a fraqueza do regime. Ao desestabilizar o inimigo e  expor suas fraquezas, criaria as condições para que as massas se revoltassem.

Nesse sentido, a repercussão local seria preferível em relação à repercussão global, para que a população local se identificasse como uma das partes da luta. Na primeira fase da guerrilha, seria mais importante que o camponês e o operário criassem embasamento político e se identificassem com a guerrilha do que empunhassem o fuzil. Assim, na primeira fase da luta, o objetivo deveria ser ganhar uma batalha ideológica e não criar força para ganhar a batalha militar.

Em uma primeira fase da revolução, a organização não seria uma luta do povo, mas para ele. O movimento de vanguarda, realizado por poucos, que através da luta armada exerceriam um papel didático sobre as massas. Assim, no primeiro momento, o objetivo não seria de organizar as massas, mas, através da luta armada, mostrar ao povo a sua perspectiva de participação – e o desenvolvimento da luta no campo seria especialmente importante nesse sentido. Neste ponto, a VPR divergia da VAR-Palmares, que entendia que luta armada e conscientização das massas deveriam ser concomitantes.

Assim, o recrutamento das massas seria limitado por questões de segurança. A VPR se propunha a ser uma uma organização de quadros, não de massas. Seu objetivo seria formar quadros, não em quantidade, mas em capacidade combativa, para criar as estruturas de um trabalho eficaz. Como vanguarda, deveria interpretar as exigências do povo e, assim, fazer com que compreendesse que a vanguarda lutava por ele.

Embora as massas não fossem convidadas a participar, a princípio, da luta armada, elas guiaram o combate. Para a organização, o contato com as massas se faria no próprio desenvolvimento da luta, utilizando ações armadas de repercussão nacional e local como propaganda contra o regime e se mostrando como uma alternativa de poder, ao demonstrar sua eficiência e capacidade política. A participação das massas dependeria da fase da luta. As formas de luta intermediária, com a participação das massas, não teriam capacidade de se sustentar por muito tempo no contexto de formação da organização. As massas deveriam entrar na luta em um estágio de amadurecimento que levaria a guerra revolucionária.

Em uma fase avançada de luta, a organização catalisaria a oposição social em oposição política através da luta armada e se tornaria um partido nacional. Tal partido, como instrumento de luta, deveria ser desenvolvido, na medida em que a luta armada fosse capaz de conter qualquer força de repressão. Desta forma, assegurariam que o partido não se subsistiria apenas por um acordo tácito das autoridades, caso em que poderiam dissolvê-lo quando se tornasse perigoso, bem como evitariam que o partido se tornasse um fim em si mesmo, cedendo quando ameaçado.

O recrudescimento da repressão militar, a prisão e assassinato de diversos quadros da organização, o  isolamento social e a infiltração de um agente policial na alta direção da VPR resultaram em sua liquidação, que foi consumada em 1972 com o chamado Massacre da Chácara São Bento. Na ocasião, Cabo Anselmo, o militar infiltrado na VPR sob coordenação do delegado Fleury, armou uma emboscada para os guerrilheiros. Seis pessoas foram assassinadas pelos agentes da ditadura.

 

 



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