
Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares)
Vanguarda Armada Revolucionária – VAR-Palmares
Em julho de 1969, militantes do Comando de Libertação Nacional (COLINA) uniram-se à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), formando a VAR-Palmares. Por sua vez, o COLINA havia absorvido, no início daquele ano, parte das Dissidências do Partido Comunista Brasileiro (PCB) da Guanabara e do Rio Grande do Sul, além da Ação Popular na Guanabara.
A união entre essas organizações ocorreu durante o chamado “congresso de fusão”, que escolheu o nome da nova organização e decidiu seu comando provisório. Por meio do “Informe sobre a fusão VPR-Colina”, os militantes de ambas as organizações foram convocados a participar do congresso para consolidar a união. Assim, em setembro, ocorreu o I Congresso da Organização na cidade de Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro.
O nome foi escolhido de maneira a indicar a qualidade da organização (uma vanguarda armada com o objetivo de promover a revolução), mas também para evocar a história do Brasil como uma luta revolucionária, homenageando aqueles que lutaram no passado. Para isso, foi acrescentado “Palmares”, em referência ao Quilombo de Palmares e à resistência das pessoas escravizadas no Brasil.
O congresso teve duração aproximada de 40 dias, durante os quais foram debatidas as estratégias e os princípios da organização. No entanto, divergências sobre tarefas políticas e militares, além das dimensões social e armada da luta, culminaram no “racha” da VAR-P, com uma parte dos militantes reconstituindo a VPR. A segunda fase do congresso, após a separação, resultou no Programa da VAR-Palmares.
O Programa foi dividido em duas partes: “Situação Nacional e Análise de Classe”, na qual foi analisada a conjuntura econômica e política do Brasil; e “Estratégia”, que estabeleceu os objetivos da Guerra Revolucionária e os meios para alcançá-la.
Para a VAR-P, as contradições do sistema capitalista durante os governos democráticos no Brasil, especialmente o de Jango, tornaram-se evidentes, levando ao poder assumir a forma de ditadura militar para sua manutenção. Nesse contexto, a luta política deveria ser sustentada pela luta armada.
Na análise de conjuntura do Programa da VAR-P, a militarização da política brasileira, por meio da ditadura militar, resultou do aprofundamento das contradições entre as classes sociais brasileiras e da impossibilidade de ocultar as contradições do modo de produção capitalista. Sem conseguir conter o avanço do movimento de massas que estava em curso pouco antes do golpe de 1964, as Forças Armadas tiveram que assumir o controle do Estado em defesa dos interesses das classes dominantes. As forças repressivas do Estado ditatorial impediram a continuidade da luta legal das massas desarmadas. Consequentemente, a continuidade da luta política dependeria da luta armada.
A Guerra Revolucionária proposta pela VAR-P tinha o objetivo de destruir o sistema capitalista e conquistar o poder político para construir o socialismo. Embora dirigida pela classe operária, essa luta não estaria necessariamente subordinada ao seu nível de consciência. A luta armada não tinha apenas o propósito de tomar o poder, mas também de instigar a consciência de classe nas massas trabalhadoras por meio do Processo da Guerra Revolucionária.
O Programa da VAR-P previa, portanto, a luta armada, levada a cabo por uma vanguarda e, paralelamente, a mobilização e desenvolvimento de consciência de classe para luta política das massas, a fim de superar o isolamento da vanguarda com as massas. Até esse ponto, os objetivos e os meios eram muito semelhantes aos da VPR, com a qual compartilhava o lema “Ousar lutar, ousar vencer”.
No entanto, a VAR-P acreditava no trabalho urbano, junto às classes operárias e aos estudantes. Além das ações armadas e das colunas guerrilheiras, a organização apoiava o trabalho de conscientização das classes trabalhadoras no longo prazo, por meio da participação em sindicatos, ações nas fábricas e universidades
Esse ponto foi uma das principais divergências entre a VAR-P e a VPR, que culminou no racha. A VPR acreditava que, pelo menos em uma primeira fase da revolução, a vanguarda deveria estar direcionada apenas para a luta armada, sobretudo no campo. A atuação na cidade seria limitada a pequenas ações, principalmente para a manutenção econômica da luta. Outros projetos eram considerados um desvio de forças e um foco na luta armada. O apoio da população aconteceria de forma orgânica ao longo da luta, à medida que a classe trabalhadora percebesse as fraquezas do regime e compreendesse que a vanguarda lutava pelos interesses do povo.
Ainda em 1969, outro grupo de militantes se separou da VAR, criando a Dissidência da VAR-Palmares (DVP). O aumento da repressão militar e o desmantelamento do Comando Nacional da VAR-P enfraqueceram a organização, que, no final de 1971, estava a caminho da extinção.