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Organização

Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)

9 de agosto de 2023

MR-8 – Movimento Revolucionário 8 de Outubro

O MR-8 nasceu de uma dissidência do PCB no meio universitário do Estado da Guanabara em 1964. A dissidência, DI-GB, se separou do PCB em 1966 quando das eleições legislativas daquele ano quando o PCB pregava a participação e a DI-GB o voto nulo.

Em 1967 a DI-GB realizou sua primeira Conferência em que afirmava uma linha política de luta armada contra a ditadura. Em seguida nova ruptura e parte de seus militantes voltou ao PCB e outra parte formou a COLINA. Mas ainda em 1967 realizou uma segunda Conferência reerguendo a organização e estabelecendo nova linha política. A DI-GB se ampliou em 1968 e teve participação importante nas mobilizações estudantis no período.

Em 1969 realizou a III Conferência em que se afirmava enquanto “organização comunista empenhada na guerra revolucionária” a partir de então participando de ações armadas. Em setembro de 1969 a DI-GB teve participação determinante na concepção e realização do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick tendo sido apoiada na ação por militantes da ALN. No curso desta ação que adotou o nome de MR-8 (oito de outubro a data da captura de Ernesto Che Guevara na Bolívia) para desmoralizar a repressão que anunciara semanas antes a destruição desta mesma organização. O nome assumido para efeitos de propaganda, permaneceria.

Apesar de sucessivos golpes da repressão, em 1970, o novo MR-8 ampliou seu trabalho, estabelecendo contatos em fábricas e áreas rurais. Em 1971 lançou dois textos: “Orientação para a prática” e “Como prosseguir” além de outros sobre experiências de trabalho político em áreas rurais e urbanas, demonstrando solidez na organização. Entretanto, com seguidos golpes da repressão entre 1971 e 1972 que quase liquidariam a organização, o MR-8 recompôs sua direção no exterior.

Sobre a Linha Política e Orientação para a Prática, publicações de 1969 e início de 1971, a organização afirmava que a situação internacional apontava para o imperialismo monopolista em substituição ao colonialista, em que ao invés de os países subordinados exportarem matéria prima comprando produtos manufaturados dos centrais, a fase monopolista se caracterizava pela exportação de capitais. Integrados ao bloco dos países submetidos ao imperialismo norte-americano encontravam-se os países de economia capitalista dependente. As classes e setores sociais explorados desses países representavam a vanguarda da revolução mundial e ilustravam o aspecto principal da contradição principal.

A contradição principal entre capital e trabalho no plano internacional traduzia-se ao nível da luta de classes como a contradição entre as classes e setores explorados pelo capital internacional (ou pelo capital que lhe é associado e/ou dependente) nos países dependentes, e o imperialismo.

A experiência socialista vitoriosa em diversos países do mundo, aliada às condições objetivas internas de cada país desempenhavam papel importante, mas só se confirmaria no apoio firme à continuidade da luta contra o imperialismo e o capitalismo até sua liquidação final. Que a existência de países socialistas não enfraqueceria o capitalismo apenas ao apoiar a revolução dos povos ainda submetidos à exploração do homem pelo homem, mas debilitariam o capitalismo lhe retirando enormes mercados ao mesmo tempo em que se desenvolvem nos campos econômico, político, social e cultural. Entre as contradições secundárias estaria a existente entre as classes exploradas e as classes exploradoras nas metrópoles do capitalismo monopolista internacional.

Pregavam ainda o apoio ativo e decidido aos movimentos revolucionários no mundo. Devia-se lutar por estabelecer uma dinâmica no processo de revoluções vitoriosas no mundo, dinâmica que se caracterizaria pela mobilização e politização constante das classes e setores sociais revolucionários. Defendiam a Revolução cubana enquanto a vanguarda histórica da revolução latino-americana. Reafirmavam o princípio de base do materialismo histórico, segundo o qual a luta armada seria o caminho essencial para a liquidação final da exploração do homem pelo homem, considerando a diversidade dos métodos de acordo com cada situação concreta. Solidariedade internacionalista aos povos que combatiam à mão armada o imperialismo.

Sobre a etapa e forças estratégicas da Revolução Brasileira afirmava o MR-8 que o capitalismo brasileiro se revestia da forma de capitalismo dependente integrado no processo imperialista em que as empresas multinacionais monopolistas constituíam o motor e a burguesia norte-americana a vanguarda. A característica dependente era incapaz de liberar a sociedade do atraso em que se encontrava e da exploração imperialista que a domina. Que o conjunto da burguesia de capital brasileiro se aliava ao imperialismo para explorar o povo, mostrando-se incapaz de participar de uma luta radical antiimperialista.

O processo de monopolização implicava em exploração impiedosa das amplas massas da sociedade brasileira no campo e nas cidades, implicando a formação no plano político de regimes e governos ditatoriais, armados de instrumentos capazes de conter e reprimir a insatisfação da maioria esmagadora do povo. Os países de economia capitalista dependente estariam submetidos em bloco à hegemonia do imperialismo norte-americano. As classes e setores sociais explorados dos países dependentes representavam a vanguarda da revolução mundial.

A contradição principal na sociedade brasileira era a que opunha o proletariado à burguesia e que nessa medida destruir o imperialismo significava destruir a burguesia nacional e vice-versa.

Fazia-se a análise que as vitórias do socialismo no mundo à época só se confirmariam na história com a continuidade da luta contra o imperialismo e o capitalismo até sua liquidação final. Que a existência de países socialistas além de ajudarem as revoluções dos povos ainda submetidos, enfraqueciam o imperialismo retirando-lhe mercados importantes ao mesmo tempo em que desenvolviam os países socialistas nos campos político, social, cultural e econômico.

No campo socialista alertavam para a necessidade de se combater a noção de coexistência pacífica com o capitalismo e reafirmavam o apoio ativo e decidido aos movimentos revolucionários do mundo. Em relação à América Latina o “Oito” afirmava que os revolucionários do continente defendiam o princípio da defesa intransigente da revolução cubana enquanto vanguarda histórica da revolução latino-americana. Afirmavam ainda que enquanto princípio base do materialismo histórico a luta armada era o caminho essencial para a liquidação final da exploração do trabalho do homem pelo homem, embora considerando a situação concreta de cada realidade concreta.

Sobre a revolução brasileira os documentos do movimento afirmavam que a sociedade brasileira se caracterizava pela estrutura capitalista de produção, na forma de capitalismo dependente integrado ao processo imperialista no qual as empresas multinacionais monopolistas constituiriam o motor e a burguesia norte-americana a vanguarda.

O precoce processo de monopolização da economia nacional também foi discutido no documento indicando um processo de alta exploração dos trabalhadores do campo e da cidade garantida pela repressão em governos de contornos cada vez mais autoritários com a perspectiva de reprimir o descontentamento do povo e suas reivindicações.

Por conservar sua posição estratégica no setor produtivo do país e por representar os demais setores explorados o proletariado urbano e rural era afirmado enquanto vanguarda da revolução brasileira. Seu crescimento e organização disciplinada e coletiva criariam condições para a organização do proletariado enquanto classe preparada para o novo modelo de produção e apropriação sociais. Junto com o semiproletariado rural, os pequenos camponeses e os setores empobrecidos das camadas médias, o proletariado era afirmado enquanto classe revolucionária brasileira.

Estudantes secundaristas, universitários e intelectuais, limitados em sua expressão pelo Estado Monopolista que restringe sua liberdade de expressão, mereceriam atenção especial dos revolucionários.

Na Frente Única que se forma durante a luta revolucionária o proletariado não deveria deixar de exercer a formação pedagógica e política dos militantes. A hegemonia da vanguarda proletária nessa Frente seria processo de trabalho e esforço sistemáticos de seus representantes.

A burguesia de capital nacional era apontada enquanto oposição contrarrevolucionária embora passível de dissensos internos que deveriam ser acompanhados e estimulados pela vanguarda da classe operária.

Na etapa socialista da revolução brasileira o MR-8 afirmava que o único Estado capaz garanti-la era a ditadura do proletariado, caracterizada pela hegemonia operária sobre os instrumentos de força: o exército revolucionário, as forças militares auxiliares, as milícias populares e a polícia. “A ditadura do proletariado revestirá a forma de governo dos trabalhadores da cidade e do campo”. (pág. 346 “Imagens da Revolução”, Aarão, Daniel e Sá, Jair, 1985)

O caráter socialista da revolução: nacionalização dos grandes monopólios rurais e urbanos e do comércio externo; destruição das instituições burguesas, base e expressão do capitalismo dependente; destruição do exército burguês e do conjunto do aparelho de repressão existente com distribuição de armas ao conjunto das classes exploradas; economia planificada; pleno emprego e melhoria das condições de habitação, transporte, alimentação, saúde e educação para todo o povo.

A guerra revolucionária é uma guerra pelo socialismo e deverá ser assumida a partir de uma ótica proletária, propugnavam. Compreendendo todas as formas armadas de luta assim como as não-armadas que guiam, preparam e reforçam as formas armadas de luta. Guerra da imensa maioria da população brasileira, dirigida pela vanguarda do proletariado com caráter extremamente popular. Caberia ainda à vanguarda proletária a tarefa de canalizar as lutas espontâneas das classes exploradas no sentido da revolução.

O documento do MR-8 alertava ainda para a preparação e experiência política e militar das classes dominantes que estariam sempre atentas ao desenvolvimento da luta revolucionária, motivo pelo qual afirmavam a guerra revolucionária enquanto guerra de longa duração e combinada à luta não-armada.

Analisando a conjuntura política e econômica da época o texto do MR-8 afirmava que apesar do crescimento econômico a taxa de desemprego era de 10% e de subemprego de 46%. Criticava os projetos de colonização agrária que atingiria apenas 1% dos 250 mil assentamentos que o Brasil deveria fazer ao ano pelos dados da FAO na época. Apontam a remessa de lucros ao exterior, entre o golpe de 1964 até 1970 os EUA investiram 2,5 bilhões e retiraram 8,5 bilhões de dólares. Apontava ainda que a classe dominante não era monolítica, que havia contradições que deviam ser trabalhadas pelas lutas revolucionárias.

Caracterizava a ditadura como uma tentativa de desenvolvimento econômico dependente e subordinado, propaganda de suas realizações com controle da opinião pública via censura e carta branca aos órgãos de repressão no combate à guerra revolucionária. Ditadura estaria desmascarada e isolada socialmente. Tampouco a esquerda armada era vista pela população como alternativa de poder. Avaliavam que a esquerda havia cometido dois erros práticos na luta armada, o espontaneísmo e o vanguardismo, que deviam ser superados. Reivindicavam um plano global, nacional de trabalho para a revolução brasileira. Com o AI-5 e o endurecimento do regime a luta de massas estava impossibilitada e a tática então seria fortalecer a organização interna da militância. Era necessário aprofundar a influência política sobre as massas. Integrar e solidificar o trabalho das organizações político-militares fomentando as guerrilhas estratégicas. Para cada região e situação um plano de ação específico.

Propugnavam a derrubada da ditadura e liberdade de expressão e de organização garantidas pelo povo armado; estatização das empresas nacionais e estrangeiras que colaborem com o imperialismo; terra a quem trabalha; direito ao trabalho garantido a todos e fim do desemprego; esse o conteúdo das tarefas de propaganda revolucionária.

 

A opção pelo caminho da compreensão da produção de pensamento e orientação da ação política das organizações revolucionárias da época da ditadura encontrou no livro “Imagens da Revolução” de Jair de Sá e Daniel Aarão Reis de 1985, importante e primeiro impulso descritivo sobre o conteúdo teórico-político das organizações, aqui sintetizados.



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