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Advogados

Wanda Rita Othon Sidou

13 de dezembro de 2022

Uma guerreira na defesa dos presos políticos

Ari Othon Sidou*

Nasceu em 22 de maio de 1921, em Fortaleza – Ceará, graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais (UFC), cursou História na UECE (Universidade Estadual do Ceará) e concluiu os créditos do Curso de Doutorado em Direito Público, ministrado pela Faculdade de Direito da UFC.

Na eleição de 1946, para a reconstitucionalização do País, Wanda concorreu na chapa do PCB a deputada federal.

Advogada militante nos Estados do Ceará, Maranhão, Piauí e Pernambuco, Dra. Wanda nunca perdeu prazo judiciário e nunca esteve ausente de uma audiência marcada.

Exerceu três mandatos consecutivos como conselheira da OAB – Ceará, onde ocupou o cargo de 1ª secretária. Era advogada por ardente e altaneira vocação, abnegada, estudiosa, com perfeita consciência de seu ofício.

Com a instauração da ditadura militar e seu recrudescimento nos chamados “anos de chumbo”, em que a tortura nos presídios foi a tônica no combate aos “subversivos”, Wanda, juntamente com dois outros advogados, Drs. Pádua Barroso e Jurandy Porto, dedicou-se à defesa dos presos políticos, comunistas ou apenas opositores do regime, entregando-se de corpo e alma à causa socialista sem receber de seus clientes nenhum centavo de honorários.

Várias dezenas de políticos, hoje ocupando ou tendo ocupado importantes cargos, foram defendidos pela Dra. Wanda, guerreira indormida na defesa de seus clientes, integrantes de várias classes e categorias sociais.

Apraz-me transcrever um antológico artigo do Professor e Filósofo Francisco Auto Filho, no dia seguinte ao seu falecimento, que ocorreu em agosto de 1993.

“Wanda Sidou foi a extraordinária figura humana que conheci nos ásperos tempos da ditadura militar. Advogada dos perseguidos políticos, militante pioneira dos direitos humanos e da anistia, ela aliava, numa fina postura de silêncio aristocrático, uma incontestável competência profissional a uma incomensurável humanidade no trabalho diuturno em defesa dos presos políticos. Sou testemunha ocular de sua desmedida dedicação aos que tiveram o privilégio de merecê-la como advogada de defesa. Sua relação com os prisioneiros políticos tinha como norma básica o mais profundo respeito às pessoas e suas crenças. Cultivava ela uma autêntica tolerância lockeana para com todos, manifestando uma paciência que me parecia infinita até mesmo com as idiossincrasias que nos atacam após longo tempo de cárcere. Só é possível avaliar, com exatidão, sua complexa e fascinante personalidade, vendo-a em ação nos tribunais militares. Eu vi. Lá, diante dos carrascos fardados, aparecia uma Wanda leonina, dominada pela “ divina ira” da qual falava Juvenal. À força da convicção racional, que destrói de forma indubitável os “processos”, juntava-se a paixão pelos oprimidos e a repulsa à tirania.

A dor que nos causa a morte de Wanda pode até ser consolada pelo tempo. Sua ausência do nosso convívio nos empobrece a todos. E para sempre, pois ela é insubstituível.”

Embora com a saúde abalada e, tendo que dar assistência à enfermidade de sua mãe, Ambrosina Othon Sidou, Wanda era entusiasta, hasteando a bandeira da Anistia e marcando presença em quase todos os eventos.

Pautou toda a sua existência dentro de uma linha ética e honrada. Ninguém mais do que ela conhecia a Lei de Segurança Nacional, fruto da época ditatorial, pois, sem transgredi-la, estaria isenta dos anseios dos algozes que desejavam, a todo momento, a privação de sua liberdade, o que dificultaria, sobremodo, a destemida defesa dos presos políticos por ela assistidos e que não eram poucos.

Várias personalidades da vida política e religiosa do País, vendo naquela mulher uma verdadeira guerreira em defesa dos que buscavam a legalidade, costumavam procurá-la, quer por telefone quer pessoalmente, ofertando-lhe seus livros e levando-lhe uma palavra de admiração por sua luta em favor dos desassistidos.

*Ari Othon Sidou é Advogado, Professor Universitário e irmão de Wanda Othon Sidou.

Reprodução/Livro: ” Coragem – A Advocacia Criminal nos Anos de Chumbo “, Iniciativa: OAB e OABSP, Organização: José Mentor, Março, 2014



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