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Advogados

Afonso Maria da Cruz

7 de dezembro de 2022

Meu tributo ao colega

Carlos Augusto de Araujo Cateb*

Afonso Maria da Cruz nasceu no dia 28 de fevereiro de 1941, na pequena Santa Rosa dos Dourados, município de Coromandel, Minas Gerais e, desde jovem, defendeu princípios políticos e ideológicos que viabilizassem a mudança política, capaz de realizar a “inclusão social” dos pobres e alijados do processo desenvolvimentista e educacional.

Trabalhou, desde 1962, na Petrobras, sendo eleito para o Conselho Fiscal do Sindipetro, em 1963. Escreveu os artigos “O Medo do Diálogo”, “Petróleo e Liberdade” e “O Povo Reclama seu Minério”, para o Jornal VOGA, sendo acusado, depois do Golpe, de comunista.

Foi diplomado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1969, mas estagiou acompanhando os processos de presos políticos, em meu escritório, desde 1967. No dia 26 de janeiro de 1969, foi dispensado da Petrobras por despacho ministerial. Cassado o mandato sindical e demitido da Petrobras, Afonso passou a advogar na Justiça do Trabalho e para muitos presos políticos, não cobrando honorários de vários, seja pela amizade, seja porque sem condições financeiras. Digo, sem medo de errar, que Afonso teria sido o advogado que mais acompanhou processos nas Auditorias Militares e DOPS, naquela época.

Afonso assumiu posição destemida, com extrema dedicação, inteligência e presença nas reuniões estratégicas dos idealistas e dos que viviam na clandestinidade. Argumentava com muita técnica e veemência e recorria até a última instância em busca da liberdade dos presos políticos. Em 16 de janeiro de 1974, representou perante o Superior Tribunal Militar contra o Juiz Auditor da 7ª Circunscrição Militar, por negar soltura de um preso. Tentaram condicionar à desistência de outros recursos. Afonso não aceitou negociar e obteve a soltura. Sempre recordamos as “peripécias jurídicas” do Afonso.

Certo dia, estávamos na 4ª Auditoria Militar (Juiz de Fora), no momento em que Afonso fazia sustentação oral, chegaram um oficial do Exército e outros militares, “cumprimentaram a Junta Militar” e levaram o Afonso preso. Ficou incomunicável por seis dias.

Posteriormente, ajuizou e recebeu indenização por sua dispensa em decorrência de perseguição política.

Afonso faleceu no dia 28 de novembro de 1990, vítima de acidente de trânsito no cruzamento da BR 040 com a MG 432, próximo à CEASA. Minhas homenagens à Olímpia, esposa e companheira, e Jussara, pequena menina adorada pelo casal, que entenderam as “ausências cotidianas”, e o enaltecem por seu exemplo de profissional ético, responsável e vocacionado à boa causa.

Nos idos de 2006, o DENIT construiu a passagem de pedestres sobre a BR 040, denominada “PASSARELA AFONSO CRUZ”, por intermediação de Sindicatos e determinação pessoal do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reconhecimento a sua luta social, sua vida dedicada à justiça em prol dos perseguidos pela ditadura militar.

(Reprodução/Coragem – A Advocacia Criminal nos Anos de Chumbo/OAB São Paulo)



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